segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Resoluções de Ano-Novo

*Texto postado em www.mundoalegraivos.com, em 14/12/2010.

Olá, Mundo Alegrai-vos!


Estamos em pleno Advento, mas é impossível não pensar que o fim do ano está chegando... 2011 já está quase aí!


Estou lendo sobre a A Liberdade Interior, e tenho pensado muito nessa riqueza que possuímos, capaz de expandir nossos horizontes para além das limitações que encontramos nesse mundo. Com essa ideia de expansão de horizontes, lembrei também, como estamos encerrando 2010, das já tradicionais "Resoluções de Ano-Novo", em que as pessoas estabelecem objetivos e projetos, e se comprometem a buscá-los no ano seguinte.


Nem sempre essas metas são fáceis ou confortáveis de se conquistar - é comum que exijam uma certa dose de sacrifício. E isso só é possível para nós justamente porque somos livres! É isso que nos permite renunciar aos nossos "quereres", lutar contra nossos defeitos, exercitar virtudes, superar nossa natureza humana, limitada. Nossa liberdade é tanta que permite que vençamos nossa vontade e nos submetamos, por amor, à vontade de Cristo.


Sendo assim, tenho um convite para ti: que tal deixar um espaço na listinha de resoluções para colocar como a maior meta aquilo que o Senhor quer para a tua vida, aquilo que te incomoda, mas que Ele coloca diante de ti como algo necessário para a tua felicidade?


Não tem graça fazer resoluções de Ano-Novo que fiquem dentro da nossa "zona de conforto", que não exijam de nós! Deus nos quer por inteiro, e isso implica dispor inclusive de nossa liberdade, para nos abandonarmos n'Ele verdadeiramente.


Que neste novo ano que está chegando tenhamos a coragem de dar a resposta que o jovem rico não conseguiu dar a Jesus (Mt 19, 16-22). Que, quando compreendermos o que Ele quer de nós, sejamos corajosos e renunciemos ao que for preciso, ainda que nos custe (e como custa!), para que se cumpra na nossa vida a Sua vontade.


Ainda temos pouco mais de duas semanas para o Ano-Novo. É tempo de perguntar: "Que me falta ainda?".

Que me falta, Senhor, para que em 2011 eu possa ser ainda mais teu?

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Clareza e coerência

Quando eu estava no colégio, na correção das redações as professoras tinham uma lista de itens que nós, alunos, deveríamos cumprir. Entre eles, havia o de "clareza e coerência". Quantas vezes, ao receber uma redação, olhávamos a anotação em caneta vermelha, sem entender muito bem o que significava aquilo ("qual o problema em escrever desse jeito? Onde não está coerente?") ou furiosos com a observação feita pela professora ("mas como meu texto não está claro??").

Nessas pequenas coisas escondem-se os segredos mais incríveis: eu jamais poderia imaginar que a correção de uma redação no colégio traria consigo uma lição profundamente ligada com o dia-a-dia, com a vida como um todo. Isso a gente vai descobrindo depois...

A nossa comunicação com o mundo se dá de várias formas: gestos, palavras (escritas ou faladas), roupas, lugares que frequentamos... E hoje as pessoas participam de tantas atividades, tantos grupos sociais (do trabalho, local de estudo, do clube, do grupo religioso, de um curso que fazemos, da internet, etc.), que ficam ainda mais evidentes as diferentes características, manias, qualidades e defeitos que possuímos. A impressão é de que podemos ser diferentes "eus", um em cada situação, conforme nos pareça mais conveniente.

E aqui entra a lição das aulas de redação, tão difícil de entender: assim como as frases e parágrafos formam um texto, todas essas características, virtudes, defeitos, etc. formam o nosso ser. Essas frases e parágrafos, se fazem parte de um texto que defende uma ideia, não podem se contradizer, porque assim não atingirão seu objetivo. Da mesma forma, podemos ter várias "partes", mas elas compõem um "todo" - somos uma pessoa só, e assim devemos ser, em qualquer circunstância, para podermos viver nossa vida de forma plena.

Hoje olhamos para o mundo e vemos como fazem falta valores como autenticidade e integridade. Reclamamos da falta de honestidade, das pessoas "duas-caras". É exatamente disso que se trata! Uma pessoa íntegra é uma pessoa inteira, que não esconde quem é - que age com clareza.

E é impossível não concordar com o fato de que é decepcionante conviver com quem não é coerente, em seus atos, com aquilo que expressa em palavras... Não dá pra acreditar em quem fala e não faz (apesar de que, na política brasileira, inexplicavelmente que os que falam e não fazem ainda tem vez) - uma pessoa de palavra, algo que tanto prezamos, é aquela que é coerente em sua vida com os ideais e valores que propaga.

A falta de "clareza e coerência" na vida tem consequências bem mais graves que um desconto na nota. Mas não dá pra desanimar: o bom é que a mesma vida que aponta com a caneta vermelha essa falha nos dá a oportunidade de reescrever o que está confuso ou incoerente...

Que possamos nos preocupar em viver a nossa vida de forma plena, íntegra. A partir daí, podemos mudar o mundo! Afinal, a melhor forma de defender a honestidade, a retidão de caráter, a integridade e outros valores não é através de textos (por melhores que sejam) mas através de uma vida coerente, autêntica, verdadeira.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Arqueologia

Nas pegadas das minhas botas trago as ruas de Porto Alegre...
Essa época do ano tem algo de terrivelmente maravilhoso. Novembro em Porto Alegre tem esse ar especial: a Feira do Livro exala fascínio. E logo desata em mim uma nostalgia daqueles prédios mais antigos do centro da cidade (nessas horas acho que realmente entendo Mário Quintana [ou ele me entende?]: Sinto uma dor esquisita/ Das ruas de Porto Alegre/ Onde jamais passarei...).

Lembro que teve uma época, quando eu era menor, em que eu achava o máximo a arqueologia. Egito Antigo, Roma, Grécia, civilizações pré-colombianas... tudo me interessava. Pensava em ser arqueóloga. Investigar ruínas, encontrar vestígios de como os povos viviam, conhecer novos (velhos) mundos.

Passou o tempo, fiz outras escolhas em relação a minha vida profissional, aquela vontade de descoberta, de desbravar universos, se foi, quase sumiu.

Será? Me dei conta, na semana passada, que esse sentimento não some, apenas muda. A vontade agora é desencavar desses prédios antigos do centro da cidade, das ruas, das praças, os mundos, os sonhos, os sofrimentos, as esperanças, os planos, as angústias, as confidências, das pessoas que ali estão ou já passaram.

Hoje, meu sítio arqueológico é a cidade; meus materiais de escavação, o papel, a caneta, o editor de texto do blog. E assim, vai-se reconstruindo palavra por palavra aquela civilização perdida no interior de cada um de nós.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Radicalidade

É senso comum, atualmente, que ser chamado radical é algo pejorativo. Ninguém quer ser tachado de radical; quando a conversa começa a ficar pesada, os ânimos acirrados, sempre tem alguém pra dizer "não seja tão radical...".

Sinceramente, isso cansa. Concordo que devemos saber dialogar com os outros, mas a deturpação que se fez da palavra "radical" transforma o ter e expressar uma opinião firme ou uma certeza em algo odioso, que apenas um ignorante faria. E esse é o grande perigo: vai-se de um extremo ao outro, da irascividade ao relativismo completo!

O problema é que tem coisas na vida, e aí me refiro aos valores, à religião, em que é preciso ser radical. É preciso ter certeza daquilo em que se acredita. E isso - pasmem! - não impede o diálogo, mas o enriquece. Não dá pra defender algo decentemente, em um diálogo que te faça crescer de verdade, sem ter se aprofundado um pouco que seja no conhecimento do que se fala...

E chega de pensar nesse falso significado de radicalidade. Olha aí a origem da palavra (do Dicionário Etimológico Online):

radical: late 14c. (adj.), in a medieval philosophical sense, from L.L. radicalis "of or having roots," from L. radix (gen. radicis) "root" (see radish). Meaning "going to the origin, essential" is from 1650s. Political sense of "reformist" (via notion of "change from the roots") is first recorded 1802 (n.), 1820 (adj.), of the extreme section of the British Liberal party (radical reform had been a current phrase since 1786); meaning "unconventional" is from 1921. U.S. youth slang use is from 1983, from 1970s surfer slang meaning "at the limits of control." Radical chic is attested from 1970.
Radical é aquele que tem raiz. É aquele que está firme, porque conhece, porque se aprofunda. Quem é radical conhece as consequências de acreditar no que acredita, de opinar o que opina, e as assume com mais segurança. 

Não é o que a gente vê por aí - os "não-radicais" se esforçam pra concordar com todas as opiniões e posições sobre algum tema (ah, o politicamente correto, esse mal que está detonando a sociedade...). As pessoas deixam de perceber que existem pontos de vista incompatíveis - a escolha de um implica necessariamente negar o outro- e acabam ficando, na verdade, sem opinião nenhuma. Ou assumem uma posição extremamente frágil, pronta para ser derrubada e subsituída no primeiro conflito que aparecer.

É por essas e outras que prefiro ser radical mesmo. Quem tem raiz, diante das adversidades, não cai.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Shhhhhhhh!

Gozado, pouco depois de começar o blog, entrei numa fase em que o que eu mais quero não é falar, mas ouvir. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que eu sinto que às vezes o que precisava mesmo era ficar bem quieta. Nem que fosse para tentar ouvir o silêncio (?!).

Normalmente, não tenho grandes problemas com barulho. Gosto de estudar no bar da faculdade, aquele burburinho em volta que não dá pra distinguir. Nunca prejudicou minha concentração. Mas, quando a gente tem que tomar decisões, o primeiro passo é acalmar o coração. E pra isso, é preciso, muitas vezes, não só o silêncio interior, mas o exterior também.


A rotina, porém, não permite, pelo menos por enquanto. As pessoas falam sem parar, a televisão fala sem parar, os carros, buzinas, rádios, passos, não param. O jeito então é exercitar a alma, respirar fundo, fechar os olhos... 

E bom silêncio pra vocês.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O mundo, o homem, a espera

Vivemos em um mundo onde todos estão sempre correndo. Não gostamos de esperar, seja no trânsito, seja em uma fila de loja, seja no telefone. Olho no relógio, levantamos a cabeça, olhamos em volta. Rostos preocupados, ansiosos, devolvem o olhar de quem não tem tempo a perder. Conferimos o celular, pra ver se ninguém ligou. Quando menos esperamos, percebemos a batida ritmada de um pé no chão (ops, esse pé é meu). 
O ser humano não gosta de esperar: quer tudo pra ontem, pra agora. A informação tem que ser a de agora; os planos têm que ser a curto prazo; a leitura, se não for rápida, não interessa; o mundo tem que caber em manchetes curtas, que é pra não demorar muito...

***

O ser humano é o ser da esperança, é o ser que espera. É um ser que sonha. E o que é um sonho, se não uma esperança? 
De nada adiantaria contar os dias, as horas, os minutos, que nos parecem tão preciosos no relógio que levamos no pulso (afinal, tempo é dinheiro, não é mesmo?), se contamos só por contar. Se nada esperamos, vivemos para quê?
Os sistemas mais precisos dos melhores relógios não conseguirão incutir no homem esse sentimento que nos invade de vez em quando (ou de vez em sempre), de algo que se desprende do peito e vai parar no futuro, no infinito...

Mas o nosso mundo, hoje, esse não quer saber de esperar. E se nos falta esse instante, esse momento em que emergimos entre as ondas e conseguimos puxar com força o ar fresco pra dentro dos pulmões, afundamos de vez. 
Não é à toa que a isso se chama desesperança.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O início

"...e assim, um belo dia, acordei e resolvi: por que não ter um blog?"

Ok, não foi assim (aliás, imagino que quase nunca seja).
A verdade é que a culpa é do Twitter (por enquanto - se eu achar outros culpados, aviso). 140 caracteres é muito pouco!
Os "culpados indiretos" são outros, tenho que admitir: sempre gostei de escrever (embora goste mais ainda de ler). Tinha parado com o início da faculdade, mas a cadeira de Escrita Criativa me chamou de volta. Parei de novo, mas a gente tem tanta coisa pra dizer... falta só quem queira ouvir. 
Se não houver ninguém, sem problemas: o porquê desse diário de bordo blog não é exato nem conhecido (ou, como dizem os juristas, é incerto e não sabido) - ainda. Aliás, como diria Paulo Leminski, 
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?