sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Radicalidade

É senso comum, atualmente, que ser chamado radical é algo pejorativo. Ninguém quer ser tachado de radical; quando a conversa começa a ficar pesada, os ânimos acirrados, sempre tem alguém pra dizer "não seja tão radical...".

Sinceramente, isso cansa. Concordo que devemos saber dialogar com os outros, mas a deturpação que se fez da palavra "radical" transforma o ter e expressar uma opinião firme ou uma certeza em algo odioso, que apenas um ignorante faria. E esse é o grande perigo: vai-se de um extremo ao outro, da irascividade ao relativismo completo!

O problema é que tem coisas na vida, e aí me refiro aos valores, à religião, em que é preciso ser radical. É preciso ter certeza daquilo em que se acredita. E isso - pasmem! - não impede o diálogo, mas o enriquece. Não dá pra defender algo decentemente, em um diálogo que te faça crescer de verdade, sem ter se aprofundado um pouco que seja no conhecimento do que se fala...

E chega de pensar nesse falso significado de radicalidade. Olha aí a origem da palavra (do Dicionário Etimológico Online):

radical: late 14c. (adj.), in a medieval philosophical sense, from L.L. radicalis "of or having roots," from L. radix (gen. radicis) "root" (see radish). Meaning "going to the origin, essential" is from 1650s. Political sense of "reformist" (via notion of "change from the roots") is first recorded 1802 (n.), 1820 (adj.), of the extreme section of the British Liberal party (radical reform had been a current phrase since 1786); meaning "unconventional" is from 1921. U.S. youth slang use is from 1983, from 1970s surfer slang meaning "at the limits of control." Radical chic is attested from 1970.
Radical é aquele que tem raiz. É aquele que está firme, porque conhece, porque se aprofunda. Quem é radical conhece as consequências de acreditar no que acredita, de opinar o que opina, e as assume com mais segurança. 

Não é o que a gente vê por aí - os "não-radicais" se esforçam pra concordar com todas as opiniões e posições sobre algum tema (ah, o politicamente correto, esse mal que está detonando a sociedade...). As pessoas deixam de perceber que existem pontos de vista incompatíveis - a escolha de um implica necessariamente negar o outro- e acabam ficando, na verdade, sem opinião nenhuma. Ou assumem uma posição extremamente frágil, pronta para ser derrubada e subsituída no primeiro conflito que aparecer.

É por essas e outras que prefiro ser radical mesmo. Quem tem raiz, diante das adversidades, não cai.

3 comentários:

  1. Bá, muito boa a tua reflexão! Realmente, hoje em dia, as pessoas estão invertendo todos os valores. Normalmente as pessoas pensam que discutir com radicais não vale, pois não vai mudar de opinião ou sei lá. Mas o negócio mais engraçado é que todos são abertos em relação ao mundo, mas tenta ir contra a opinião deles...

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito do teu blog e deste texto. Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Muito, mas MUITO bom seu texto.

    De fato, eu costumo dizer que "radical" e um dos maiores elogios que as pessoas me fizeram ( e têm feito!) nos últimos tempo!

    Você está mesmo de Parabéns!

    ResponderExcluir