terça-feira, 22 de março de 2011

Quaresma e o sentido do jejum

texto publicado em 14.3.2011, no Portal Católico Mundo Alegrai-vos

Olá, Mundo Alegrai-vos!




Mais uma vez, estamos no tempo litúrgico da Quaresma. Como sabemos, é tempo de converter-se, acertar o rumo da nossa vida para voltar (ou continuar) a caminhar em direção ao Senhor. E, apesar de vivermos a Quaresma todos os anos, a riqueza desse período e a imensa graça de Deus sempre nos permitem experimentar a descoberta de novos sentidos para as práticas características desse tempo tão especial.

 Digo isso porque acredito que todos nós sabemos ou já ouvimos dizer que a Quaresma é “tempo de penitência”. Assim, o jejum, a esmola (que pode significar a partilha não só de bens materiais, mas também a doação do nosso tempo, da nossa atenção, etc.) e a oração, que já deveriam fazer parte do nosso cotidiano, nos são propostos pela Igreja de forma ainda mais específica.


A proposta de penitência tem diversos objetivos (como já dizia São Josemaría Escrivá: Motivos para a penitência? Desagravo, reparação, petição, ação de graças; meio para progredir...; por ti, por mim, pelos outros, pela tua família, pelo teu país, pela Igreja... E mil motivos mais. [Caminho, 232]). Hoje, porém, gostaria de refletir sobre um sentido para as práticas de penitência, em especial o jejum, que particularmente me chamou a atenção neste início de Quaresma.


Negar-se a si mesmo para abandonar-se nos braços do Pai!

No carnaval, assisti a uma pregação em que foi dito algo como “não se afaste de Deus por causa das pessoas, por causa das coisas”. Até aí, tudo bem – a frase não é propriamente algo “novo”. Mas me fez pensar em quantas vezes em nossa caminhada vivemos (ou vemos outras pessoas viverem) momentos em que as atitudes de uma pessoa, ou uma situação na nossa paróquia, ou o estado de ânimo que domina o nosso movimento, parecem perturbar o nosso relacionamento com Deus. Não conseguimos nos dedicar por inteiro às atividades pastorais, não prestamos atenção direito na missa, parece que tudo vai mal...

Aí entra esse sentido lindo do jejum e das demais práticas de penitência que eu queria partilhar, uma daquelas sutilezas de Deus para conosco. A mortificação corporal quer fazer a gente entender exatamente isso: que nosso amor por Deus não pode depender do nosso conforto. Isso implica também (e isso é o que nem sempre nos damos conta) não depender de a gente se sentir bem em relação às outras pessoas com que “dividimos a estrada”.

Não estou defendendo, com isso, a passividade diante do que está errado. Certamente, em nossa vida, teremos inúmeras ocasiões em que será necessário exercermos a correção fraterna; nossos irmãos errarão, e nós também, e não poderemos deixar de agir em relação a isso, para que possamos ser uma Igreja que trabalhe cada vez mais e melhor para a glória de Deus. O que não pode ocorrer é deixarmos a vida espiritual enfraquecida porque algo “exterior” nos incomoda, e, nesse ponto, práticas como o jejum podem trazer muitos frutos.

Por fim, não custa lembrar que a prática de penitência não pode ser algo meramente externo: ela precisa refletir uma disposição interna de voltar a Deus, um arrependimento pelas nossas faltas. Isto é o principal, como ouvimos na missa da Quarta-feira de Cinzas: Rasgai o coração, e não as vestes (Jl 2, 13).


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